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A evolução do skin care: nanocosméticos | Colunista

A evolução do skin care: nanocosméticos | Colunista

Pele e sua organização

Cosméticos são um campo vasto de produtos utilizados pela humanidade há séculos, com o intuito de melhorar a aparência, principalmente da pele. A pele humana é um tecido extremamente complexo e dinâmico, estruturado em três camadas: epiderme (a mais externa), derme e hipoderme – cada uma delas é composta por várias subcamadas. 

Conforme envelhecemos, as fibras de colágeno e elastina que mantêm a pele firme vão enfraquecendo, resultando em flacidez e rugas. Embora essas mudanças apareçam na superfície da pele, normalmente elas se originam nas camadas mais internas da derme. A derme é a camada da pele onde ocorre a maior parte da atividade celular do tecido, que tem a função de manter a pele jovem, apesar da grande maioria dos cosméticos convencionais tratarem apenas a parte mais superficial da pele, a epiderme.

A epiderme é uma camada de tecido estruturada para proteção do corpo, portanto atravessá-la pode não ser uma tarefa simples. Transportadores de cosméticos baseados em nanotecnologia farmacêutica podem vencer com certa facilidade essa barreira, levando os ativos até a derme, e proporcionando resultados mais eficazes e duradouros.

Nanotecnologia na indústria cosmética

Formulações cosméticas podem ser utilizadas para higiene, proteção, ou com alguma atividade adicional na pele – como hidratação, clareamento e ação antienvelhecimento. Algumas vantagens das formulações cosméticas nanoestruturadas são: a maior concentração de ativos permeando a pele, maior controle dessa permeação por longos períodos de tempo, diminuição dos efeitos tóxicos a partir do uso de ingredientes biocompatíveis respeitando a barreira natural da pele.

Em 1986, a Dior já trabalhava em pesquisas com lipossomas para uso cosmético. Os primeiros cosméticos nanoestruturados foram lançados pela em empresa Shiseido no Japão em 1991, e continha glóbulos lipídicos de 10 a 100 nanômetros de tamanho. Em 1995 a Lancôme adotou a tecnologia e desde então outras nanoformulações para uso cosmético surgiram em marcas como Dior, Kérastase, Guerlain, Chanel, La Prairie, Estée Lauder, Johnson & Johnson, etc.

Principais nanotransportadores utilizados em cosméticos

Tendo em mente que a pele é composta por um epitélio estratificado externo (epiderme), que repousa sobre uma matriz de tecido conjuntivo (derme) onde se encontram colágeno, elastina e o ácido hialurônico – responsáveis pela tonicidade, elasticidade e equilíbrio da pele – as formulações à base de lipídios serão mais apropriadas para a aplicação tópica dos ativos cosméticos.

Os lipossomas são a primeira classe de nanotransportadores desenvolvidos ainda na década de 1970. São biocompatíveis, biodegradáveis, não apresentam risco e podem encapsular ativos tanto hidrofílicos quanto lipofílicos, além de melhorarem a absorção de ingredientes ativos pela pele, aumentando sua concentração no local de ação.

Os niossomas tem estrutura semelhante aos lipossomas, mas suas vesículas são constituídas principalmente de surfactantes não iônicos. São seguros, biodegradáveis, e conseguem direcionar o ativo ao local onde o efeito cosmético é desejado.

Nanopartículas lipídicas sólicas (SLN’s) são veículos coloidais compostos por lipídios fisiológicos dispersos em água ou em solução de surfactantes, com dimensões nanométricas. As SLN’s são amplamente difundidas na indústria cosméticas porque apresentam propriedades como liberação controlada do ativo, tamanho reduzido das partículas – que garante contato próximo com a pele, baixa toxicidade e melhor penetração pela epiderme. Outras vantagens desse nanocarreador são: melhora da vida útil do produto final, estabilização de ativos, melhora no grau de oclusão e consequentemente de hidratação da pele.

Nanocápsulas são formadas por um núcleo, que pode ser sólido ou líquido, revestido por uma membrana de polímero natural ou sintético. Na indústria cosmética, as nanocápsulas são utilizadas como hidrogéis ou emulgéis. O revestimento polimérico pode aumentar a estabilidade físico-química dos ativos, além de protegê-los da degradação.

As nanoemulsões (NE) consistem em formulações com 3 fases: fase aquosa, fase oleosa e surfactantes. Em geral, as NE não necessitam de grandes concentrações de surfactantes, sendo úteis para formulações cosméticas já que concentrações acima de 20% de surfactantes podem irritar a pele. Outra característica importante desse tipo de formulação nanoestruturada para a indústria cosmética é sua facilidade em ser transformada de várias maneiras como espumas, cremes, líquidos e sprays.

As NE também têm uma área de superfície maior e mais energia livre, quando comparadas a outras formulações, além de serem leves, agradáveis ao toque, e aumentarem a permeação de ativos tanto na pele quanto no cabelo.

Proteção solar à base de nanotecnologia

Óxido de zinco (ZnO) e dióxico de titânio (TiO2) são ativos permitidos em formulações para proteção solar. Quando reduzidos a dimensões em nanoescala, tornam-se cada vez mais translúcidos, fornecendo aos filtros solares maior transparência quando aplicados à pele, além de uma cobertura mais uniforme, levando à uma proteção solar mais efetiva.

Uma preocupação que surge com o uso desses ativos em formulações nanoestruturadas é a permeação tanto do ZnO quanto do TiO2 (que são produtos inorgânicos) através do estrato córneo, chegando até a derme, onde essas moléculas poderiam se acumular ou até mesmo alcançar a corrente sanguínea. Vários trabalhos já foram desenvolvidos com o intuito de comprovar a segurança dessas formulações, e até então, nenhum demonstrou riscos ao usuário.

Conclusão

A nanotecnologia está sendo utilizada na modernização de diversos setores, ajudando no desenvolvimento de soluções eficientes e com menos impacto no ambiente. O setor de cosméticos tem conseguido vários benefícios com a aplicação da nanotecnologia, por meio da criação de diversos produtos com performance superior, quando comparados aos produtos convencionais. Poucas décadas após o lançamento do primeiro cosmético com formulação baseada em nanotecnologia, as prateleiras já estão recheadas com opções desses produtos, inclusive de marcas nacionais. Os cosméticos estão em constante atualização, e para quem trabalha na área, manter-se informado é indispensável.

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Bibliografia

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Awais Hameed, Gull Rida Fatima, Kainat Malik, Ayesha Muqadas, M.Fazal-ur-Rehman*,(2019) Scope of Nanotechnology in Cosmetics: Dermatology and Skin Care Products, Journal of Medicinal and Chemical Sciences, 2, 9-16.

Effiong, D., Uwah, T., Jumbo, E. and Akpabio, A. (2020) Nanotechnology in Cosmetics: Basics, Current Trends and Safety Concerns—A Review. Advances in Nanoparticles, 9, 1-22.

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