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Obesidade infantil: prevalência no Brasil e no mundo | Colunista

Obesidade infantil: prevalência no Brasil e no mundo | Colunista

Contextualização e dados estatísticos

O Centers for Disease Control and Prevention (CDC), define a obesidade infantil a como um IMC igual ou superior ao percentil P95 para crianças e adolescentes da mesma idade. A gordura corporal acumulada em excesso é a principal característica da doença, podendo desencadear sérios prejuízos a saúde (Osca, 2018; Who, 2020).

Nota-se que o IMC é apenas um indicador da obesidade e não está relacionado diretamente com a aferição da gordura corporal total (Cdc, 2018; Sbp, 2019). Para que a criança possa receber o diagnóstico de obesidade, são avaliadas as curvas de Peso por idade e IMC por idade (Osca, 2019; Sbp,2019; Barlow, 2007).

Os quadros de sobrepeso e obesidade vem aumentando a cada ano, tornando-se atualmente, um problema de saúde pública e de grande relevância mundial. Segundo os dados, de 1975 à 2016, a prevalência de sobrepeso e obesidade, no mundo, aumentou mais de quatro vezes entre as crianças e adolescentes de 5 à 19 anos, saltando de 4% para 18% (Who, 2017). Em 2019, no mundo, cerca de 38,3 milhões de crianças menores de 5 anos estavam com sobrepeso ou obesidade. (Who, 2020).

Dados recentes da organização, indicaram que a prevalência global de sobrepeso e obesidade, nos anos 2000 eram de 5,7% e em 2020 era de 5,4%. Já os números de afetados, nos anos 2000 eram de 33,3 milhões e em 2020 era de 38,9 milhões, conforme gráficos abaixo (Who, 2021).

Gráfico 1: Tendência na prevalência de sobrepeso: porcentagem de crianças menores de 5 anos com sobrepeso (Global, 2000-2020).

Fonte: Who, 2021

Gráfico 2: Tendências em números acima do peso: Números (em milhões) de crianças menores de 5 anos com sobrepeso (Global, 2000-2020)

Fonte: Who, 2021

Ao analisarmos os dados da américa latina é possível notar um crescimento, de 6,8% para 7,5%. Na américa do sul o crescimento foi de 7% para 8,2% e na américa central observa-se uma pequena redução de 6,7% para 6,3%. O número de crianças menores de 5 anos acometidos pela doença manteve-se em 3,9 milhões, como mostra os gráficos abaixo (Who, 2021).

Gráfico 3: Tendências na porcentagem de crianças menores de 5 anos afetadas por excesso de peso, por região / sub-região das Nações Unidas e global, 2000-20201


Fonte: Who, 2021

Gráfico 4: Número (em milhões) de crianças menores de 5 anos afetadas com sobrepeso, pela região/sub região das nações unidas, 2000 e 2020.


Fonte: Who, 2021

Apesar da prevalência de excesso de peso entre crianças e adolescentes ainda ser maior entre os países desenvolvidos, o aumento dela é 30% maior nos países em desenvolvimento (Abeso, 2018).

 No Brasil, a situação dos casos de sobrepeso e obesidade não é diferente, nos últimos anos tivemos um aumento significativo. Dados emitidos pelo sistema único de saúde (SUS), deixaram as autoridades preocupadas, visto que, 16,33% das crianças entre 5 e 10 anos estão com sobrepeso, 9,38% estão com obesidade e 5,22% estão com obesidade grave. (SECRETARIA DE SAUDE DO EST. DE GOIAS, 2019).

No ano de 2019, o risco de sobrepeso no Brasil, segundo o IMC por Idade, era de 15,7% entre as crianças de 2 à 5 anos de idade. Nessa mesma faixa etária a porcentagem de crianças com sobrepeso era de 6,9% e de obesidade era de 6,6%. Ao analisarmos os dados de peso por idade, a porcentagem de crianças de 2 à 5 anos com peso elevado era de 7,4% (SISVAN, 2021).

Em 2020, o risco de sobrepeso para crianças de 2 à 5 anos, segundo o IMC por idade, era de 16,31%. A porcentagem de sobrepeso estava em 8,05% e de obesidade era 8,19%. Ao compararmos os dados de peso por idade, porcentagem de crianças de 2 à 5 anos com peso elevado subiu para 9,01% (SISVAN, 2021).

Causas e fatores associados

Ainda não foi definido uma causa específica para o sobrepeso e a obesidade, mas na literatura já há indícios de que existem fatores condicionantes a esse quadro, como fatores biológicos, ambientais, socioeconômicos, psicossociais (Wanderley; ferreira, 2010).

No entanto, dados mostram que o consumo em excesso de alimentos calóricos (açúcares, gorduras saturadas, trans) associado com um gasto energético baixo (sedentarismo) estaria interligado ao aumento de peso, ocasionando em prejuízos para a saúde. Outras prováveis são os fatores genéticos, hormonais e comportamentais (Osca, 2019; Cdc,2021; Wanderley; Ferreira, 2010; Who,2020).

Bortoline e colaboradores (2012), realizaram um estudo transversal para avaliar o consumo alimentar das crianças brasileiras, com idade entre 6 e 59 meses. O estudo contou com 4.322 crianças e foram utilizados dados secundários da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) de 2006/2007. 

Os resultados obtidos vão de encontro ao quadro de sobrepeso e obesidade que o país vivencia atualmente. Uma vez que, o consumo diário de verduras (12,7%) e legumes (21,8%) estava abaixo do recomendado. Já o consumo de refrigerantes (40,5%), alimentos fritos (39,4%), salgadinhos (39,4%) e doces (37,8%), estavam acima do indicado, sendo que a frequência estava entre uma e três vezes na semana.

Neste mesmo estudo foi possível concluir que as regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste consumiam em maiores quantidade os alimentos recomendados (frutas, legumes, verduras folhosas e carnes), ao mesmo tempo em que também consomem em maiores quantidades os alimentos não recomendados (refrigerantes, salgadinhos, doces, biscoitos, alimentos fritos).

No estudo de Libanio et al (2019), foi avaliado o consumo de alimentos ultraprocessados na região Sul do Brasil. A amostra foi composta por 22.761 crianças com idade entre 2 e 9 anos. Foi realizado uma análise do consumo de alimentos como biscoitos, bolachas recheadas e guloseimas; bebidas adoçadas; macarrão instantâneo, salgadinho e biscoito de pacote e hambúrguer/e ou embutidos, nos anos de 2015 e 2016. Dentro do estudo foi feita uma comparação do consumo desses alimentos na região sul com o restante do país.

Os resultados evidenciaram um alto consumo de alimentos ultraprocessados na região do estudo, no qual, destacaram-se nas duas faixas etárias, o grupo das bebidas adoçadas (70,45%), seguido pela categoria macarrão instantâneo, salgadinhos e biscoitos de pacotes (63,25%). Por outro lado, os grupos biscoito, bolachas recheadas e guloseimas (49,5%) e hambúrguer e/ou embutidos (45,17%) tiveram um consumo menor entre as faixas etárias.

Quando comparados a nível nacional, o estudo mostrou que algumas categorias, como hambúrguer e/ou embutidos por crianças entre as duas faixas etárias e o consumo de macarrão, salgadinhos e biscoitos de pacote por crianças de 2 a 4 anos, foi significativamente maior na região Sul. Como mostra a tabela abaixo:

Tabela 1:  Comparação de consumo de alimentos ultraprocessados entre a região Sul e o Brasil


  Fonte: Libanio et al, 2019.

Alguns dados colhidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) constatou que crianças de seis a 23 meses, que foram atendidas pela atenção primária, consumiam alimentos não recomendados para a faixa etária. Cerca de 31% consumiram bebidas adoçadas, 48% consumiram algum alimento ultraprocessado e 28% consumiram especificamente biscoito recheado, doces ou guloseimas no dia anterior à coleta dos dados (Saúde Brasil, 2020).

Efeitos a longo prazo

O sobrepeso e a obesidade podem trazer prejuízos para a saúde tanto a curto prazo, quanto a longo prazo, tudo irá depender da situação no qual o indivíduo encontra-se e qual o seu histórico médico. 

Na diretriz de obesidade da criança e do adolescente, divulgado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo, traz evidências (nível A) de que de que o aumento precoce e consideravelmente antes dos 5,5 anos de idade, aumenta os riscos de obesidade na vida adulta (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e metabolismo, 2005).

Outra evidência (nível A) encontrada foi de que a probabilidade de uma criança continue obesa na vida adulta, varia de 20% à 50% antes da puberdade 50% a 70% depois da puberdade. As complicações que possam vir a acontecer na vida adulta, como as DCNT, podem ser decorrentes da obesidade desenvolvida na fase escolar (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e metabolismo, 2005).

As crianças que são diagnosticadas com obesidade podem apresentar, dificuldades respiratórias, risco aumentado de fraturas, hipertensão, marcadores precoces de doenças cardiovasculares, resistência à insulina, efeitos psicológicos, diminuição do hormônio do crescimento, problemas ortopédicos (Who, 2020; Saúde da criança, 2009).

As consequências mais comuns, a longo prazo, da obesidade são o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como síndrome metabólica, diabetes tipo 2, hipertensão arterial e outras doenças cardiovasculares, alguns tipos de neoplasias (Cânceres), doenças respiratórias (apneia do sono), esteatose hepática não alcoólica (gordura no fígado de origem alimentar), pancreatite aguda, doença da vesícula biliar, osteoartrose (Melo, 2019).

Adultos obesos, que foram crianças ou adolescentes obesos, tem risco de morte aumentados em relação à adultos magros, que foram eutróficos na infância e na adolescência (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e metabolismo, 2005).

Recomendações

O tratamento dos quadros de obesidade deve ser tratado com equipe multidisciplinar para atingir todos os aspectos envolvidos. A principal mudança, que trará impacto, é a mudança no estilo de vida, tendo em vista que a adesão familiar é de importância vital para o sucesso do tratamento (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e metabolismo, 2005).

A participação de uma nutricionista, é fundamental para a adequação das individualidades na qual o paciente vai precisar durante o seu tratamento. No entanto algumas orientações gerais também se aplicam nesses quadros, como a redução de alimentos super calóricos (doces, refrigerantes, salgadinhos, frituras), aumento do consumo de frutas, verduras e legumes (Who, 2021; Monteiro et al, 2010).

A prática de atividade física regular (30 a 45 minutos três vezes na semana) sob a orientação de um educador físico (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e metabolismo, 2005; Monteiro et al, 2010).

Matérias relacionadas:

Referências

ABESO. Evidências em Obesidade e Síndrome Metabólica: OBESIDADE INFANTIL- Prevenção à luz das evidências científicas. nº 92 – março/abril 2018. Disponível em: https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2019/12/92.pdf . Acesso em: 03/06/2021.

ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE. Quais as principais consequências da obesidade infantil? Que orientações o agente comunitário de saúde pode dar para auxiliar na prevenção e manejo da criança obesa?. Núcleo de telesaúde Rio grande do Sul. 10/08/2019. Disponível em: https://aps.bvs.br/aps/quais-as-principais-consequencias-da-obesidade-infantil-que-orientacoes-o-agente-comunitario-de-saude-pode-dar-para-auxiliar-na-prevencao-e-manejo-da-crianca-obesa/ . Acesso em: 03/06/2021.

BORTOLINI, G.A. et al. Consumo alimentar entre crianças brasileiras com idade de 6 a 59 meses. Cad. Saúde Pública. 28 (9). Set 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/SZGm5MLVW8kJBvChgXF34rS/?lang=pt. Acesso em: 03/06/2021.

CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Defining Childhood Obesity.03/07/2018. Disponível em: https://www.cdc.gov/obesity/childhood/defining.html. Acesso em: 29/05/2021. 

IBGE. Agência IBGE notícias. Um em cada quatro adultos do país estava obeso em 2019; Atenção Primária foi bem avaliada. Estatísticas sociais. 21/10/2021. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/29204-um-em-cada-quatro-adultos-do-pais-estava-obeso-em-2019. Acesso em: 03/06/2021.

IBGE. Agência IBGE notícias. POF 2017-2018: brasileiro ainda mantém dieta à base de arroz e feijão, mas consumo de frutas e legumes é abaixo do esperado. Estatísticas sociais. 21/08/2020. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/28646-pof-2017-2018-brasileiro-ainda-mantem-dieta-a-base-de-arroz-e-feijao-mas-consumo-de-frutas-e-legumes-e-abaixo-do-esperado. Acesso em: 03/06/2021.

LIBANIO, I.F.F. et al. Consumo de alimentos ultraprocessados em crianças atendidas pelo serviço de Atenção Básica na região Sul do Brasil. Received January 8, 2019 accepted May 16, 2019. Disponível em:https://www.researchgate.net/profile/Rafaela-DaSilveiraCorrea/publication/336096351_Consumo_de_alimentos_ultraprocessados_em_criancas_atendidas_pelo_servico_de_Atencao_Basica_na_regiao_Sul_do_Brasil/links/5f85f429458515b7cf7f5891/Consumo-de-alimentos-ultraprocessados-em-criancas-atendidas-pelo-servico-de-Atencao-Basica-na-regiao-Sul-do-Brasil.pdf . Acesso em: 03/06/2021.

MELO, M.E. Doenças Desencadeadas ou Agravadas pela Obesidade. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica – ABESO. Disponível em: https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2019/12/5521afaf13cb9-1.pdf . Acesso em: 03/04/2021.

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WANDERLEY, E.N.; FERREIRA, V.A. Obesidade: uma perspectiva plural. Ciência & Saúde Coletiva, 15(1):185-194, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/cxTRrw3b5DJcFTcbp6YhCry/?lang=pt# .Acesso em: 03/06/2021

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