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Meu cliente está com ideação suicida, e agora? | Colunista

Meu cliente está com ideação suicida, e agora? | Colunista

E aí pessoal tudo bem? No nosso bate-papo de hoje iremos abordar a temática da ideação suicida. Acha tenso falar sobre o assunto? Pois vou te mostrar que tudo isso pode ser tratado de forma séria, porém leve.

Pra gente começar, fecha aí os olhos e imagina a seguinte cena: Você está tranquilo no seu local de trabalho, num belo dia ensolarado, com aquela música em som ambiente para relaxar, aí chega até você um cliente e diz: Sabe, eu acho que seria melhor pra todo mundo se eu desaparecesse.

Qual seria a sua reação? Muitos profissionais da saúde possuem um certo estigma diante de casos de comportamento suicida, mas não precisa ser assim. Então, vem comigo que eu e a Sanar Saúde vamos te dar algumas orientações para que você possa lidar melhor com acontecimentos assim.

Assim, esse material foi dividido em três partes: inicialmente, vamos conversar sobre o que é de fato ideação suicida; depois, como identifica-la; por fim, algumas formas de manejo. Preparados? Pois lá vamos nós…

O que é ideação suicida?

A ideação suicida faz parte de uma série de comportamentos denominados comportamento suicida. Esse conjunto comportamental abarca a ideação, o planejamento e o ato (que pode ser tanto uma tentativa quanto um suicídio consumado), em forma de um continuum, isto é, normalmente há uma continuidade progressiva entre ideação-planejamento-ato.

Vale ressaltar, ainda, que a ideação já é o primeiro passo do sujeito dentro do comportamento suicida e, portanto, já possui certo risco de agravamento. Daí a importância de se realizar um bom acompanhamento. No entanto, é importante salientar que nem todos os casos de ideação obrigatoriamente chegam ao planejamento e/ou ato; mas, vale a máxima “é melhor prevenir do que remediar”.

A ideação suicida consiste em certos pensamentos vagos sobre a morte e o morrer. É importante informar que nem sempre esses pensamentos, ou melhor, a fala a respeito dessas ideias – já que o sujeito exterioriza não o pensamento em si, mas a fala – vai possuir explicitamente o conteúdo suicídio. Muitas vezes o que o cliente vai demonstrar é um desejo de “sumir”, ou “desaparecer”.

“Beleza, Luan. Mas eu mesmo já sentir um desejo de sumir e nem por isso quis morrer, ou consumar um suicídio”. Realmente, é complicado identificar a ideação suicida, justamente por que, a menos que tenhamos os poderes do Professor Xavier, não dá para saber o que o indivíduo está pensando de fato. Então, aqui surge um outro problema: como identificar?

Como identificar que se trata de um comportamento suicida?

Antes de qualquer coisa, é importante frisar que nem sempre é possível identificar os sinais de um comportamento suicida. Com isso, não dá para culpar família, amigos, profissional, ou quem quer que seja, por uma fatalidade ocorrida, sob pena de causar mais sofrimento.

Outro ponto crucial é situar o sujeito com comportamento suicida como alguém que sofre de uma dor psíquica, ou, como alguns preferem dizer, dor existencial. Diante desse fato, o principal indício de que uma pessoa que se encontra nessa situação é DEMONSTRAR o seu sofrimento, seja verbalizando, seja através de comportamentos não-verbais.

Para falar de alguns sinais, eu vou utilizar o compilado feito pela ONG Change Direction (https://www.changedirection.org/), na sua campanha “Five signs”, que atua disseminando mundialmente 5 sinais de sofrimento mental, como forma de psicoeducação:

  • Mudança de personalidade: a pessoa em sofrimento pode passar por uma mudança, repentina ou gradual, da forma como normalmente se comporta diante das situações da vida;
     
  • Agitação: o sujeito pode demonstrar uma raiva, ansiedade ou agitação sem motivos aparentes, além de, em certos momentos, apresentar uma dificuldade de autocontrole;
     
  • Isolamento social: quando uma pessoa que é naturalmente sociável e engajada começa a se afastar de amigos e família, ou deixar de fazer coisas que normalmente lhe seria do agrado é um indício de que algo não está bem;
     
  • Falta de autocuidado: o indivíduo pode deixar de se cuidar, inclusive deixando de lado a própria higiene pessoal, ou se envolver em comportamentos de risco, como abuso de álcool e outras drogas;
     
  • Desesperança: se alguém que costumava ser positiva, ou era alguém que gostava de lutar por seus sonhos começa a demonstrar uma desesperança em si, nos outros, ou no futuro, é bom ligar o sinal de alerta, pois algo pode não estar bem.

É importante ressaltar que esses são alguns sinais que o cliente pode, ou não, demonstrar. De toda forma, cada caso é um caso e todo indivíduo tem a sua forma de explicitar (ou não) que algo não está bem.

“Tá, Luan. Agora eu já sei o que é a ideação suicida, já sei de alguns sinais. Mas, você ainda não me disse o que fazer para orientar alguém assim…”. Então, amigo leitor, agora vamos para a terceira parte da nossa conversa de hoje.

Alguns pontos práticos de manejo

Nessa hora do texto, eu imagino você pegando um caderninho para anotar as orientações, como quem anota uma receita de alguma comida maravilhosa e que é só seguir aqueles passos que o sucesso é certo. Você está assim?

Desculpa te desapontar, mas quando se trata de pessoas, cada uma com sua subjetividade, seus valores, seus gostos, seus hobbies, não existem receitas de sucesso. Se alguém te oferecer isso, corre longe!

Maaaaas…

Calma, não precisa dizer que te fiz perder tempo até aqui prometendo algo que não irei cumprir.

Eu disse que não existe um passo a passo universal. E, realmente não há. No entanto, existem algumas formas de começar e, depois, ir adaptando seu manejo aos poucos, de acordo com cada caso específico. Sacou?

De modo geral, um dos vieses de atuação diante desses casos é o que entende que a psicoterapia diante de casos de comportamento suicida tem como objetivo principal a restituição do sentido de vida do paciente.

O ponto principal para lidar com uma pessoa imersa no comportamento suicida é ESTAR ATENTO. Estar atento aos sinais, ao que o sujeito demonstra e ao sofrimento que ele está passando. Todas outras formas de manejo só tem sentido se essa estiver bem definida.

Além de estar atento, é muito importante NÃO JULGAR OU REDUZIR O SOFRIMENTO DO OUTRO. Ainda que o sofrimento alheio te pareça uma “besteira” ou algo do tipo, tenha certeza que o sujeito não estaria aflito se aquilo não fosse importante para ele.

E, por fim, PERGUNTE. Sim, pergunte ao indivíduo o que você pode fazer por ele, pergunte como ele está, pergunte sobre a angústia dele, pergunte, inclusive, se ele planeja morrer e como faria isso. Ainda que naquele momento ele rejeite, demonstre a ele que você está disponível para ele. De toda forma, é importante para o manejo terapêutico perguntar, pois, como dissemos que cada um é único, talvez a forma que ele precise de suporte não seja a que primeiro lhe veio à mente.

De toda forma, é importante também informar a alguém próximo, para que ele seja um suporte fora do setting terapêutico. Vale frisar que, informar é uma coisa, expor o paciente e toda a situação é outra totalmente diferente e, inclusive, antiética.

Caso queira saber outras dicas, eu fiz um texto no meu blog no Medium sobre como ajudar uma pessoa com depressão. Acesse pelo link: https://medium.com/quimeras-do-meu-mundo/como-ajudar-uma-pessoa-com-depress%C3%A3o-4e72f1949c42

De toda forma, vou ficando por aqui. Espero que esse conteúdo tenha sido relevante para você e nos vemos numa próxima oportunidade. Gratidão por você ter lido esse material!

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Referências:

Botega, NJ. Crise Suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre: Artmed, 2015.

ONG Change Direction: campanha 5 signs. Disponível em: https://www.changedirection.org/.

Renner, CO. A intervenção clínica, resgatando o sentido de vida. In: Angerami, VA (Org). Sobre o suicídio: a psicoterapia diante da autodestruição. Belo Horizonte: Ed. Artesã, 2018. p. 349-357.

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