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Aplicação das teorias de enfermagem no contexto da pandemia do Covid-19 | Colunista

Aplicação das teorias de enfermagem no contexto da pandemia do Covid-19 | Colunista

Ao nos depararmos com o período atípico no qual vivemos, causado pelo Coronavírus SARS-CoV-2, também conhecido COVID-19, é notável a importância dos profissionais da saúde nesse momento, principalmente da Enfermagem, que lida diretamente com um contato muito próximo ao paciente acometido por essa patologia. 

Portanto, a partir do que foi supracitado fica evidenciado a necessidade de se propor um olhar crítico, analítico e científico para a assistência e processo de Enfermagem.

Ao se tratar de uma assistência de Enfermagem baseada em evidências com critérios técnico-científicos, não podemos deixar de lado as teorias de enfermagem. 

Segundo estudo publicado na Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn) em 2020, por Isabella Joyce Silva de Almeida, Poliana da Silva Lúcio, Marismar Fernandes do Nascimento e Alexsandro Silva Coura, é por meio da utilização das teorias que o enfermeiro é direcionado para uma assistência com cuidado sistematizado, técnico, reflexivo, humanizado, ético e integral, englobando diversos aspectos como os biopsicossociais do indivíduo, família e comunidade, de modo a legitimar a integralidade e, universalidade e equidade que são os princípios do SUS. 

As teorias de enfermagem apesar de parecerem antigas e datadas, são mais atuais do que nunca, se encaixando completamente no planejamento do cuidado em tempos de pandemia.

Três teorias se encaixam perfeitamente nesse contexto: A Teoria Ambientalista de Florence, a Teoria de Orem e a Teoria da Adaptação de Callista Roy. 

Teoria Ambientalista de Florence

Florence Nightingale ganhou notoriedade depois de trabalhar como voluntária na Guerra da Crimeia (1854) quando organizou um hospital para o atendimento dos doentes e feridos, ajudando a reduzir a mortalidade local de 40% para 2%.

Essa redução se deu a partir de um estudo epidemiológico desenvolvido por Florence onde ela notou que fatores ambientais (ar, luz, aquecimento, limpeza, sons) interferiam diretamente no processo-saúde-doença, proporcionando a cura ou o adoecimento das pessoas.

É evidente que o ambiente é um fator primordial para a disseminação do Coronavírus, portanto algumas medidas seguindo o princípio ambientalista de Florence são essenciais tais como:

  • Higienização correta dos espaços onde há aglomeração de pessoas;
  • Isolamento em quartos separados de contaminados;
  • Separação de profissionais que atendem a suspeitos/confirmado;
  • Lavagem das mãos;
  • Higiene pessoal;
  • Ventilação do ambiente, luminosidade do ambiente;
  • Cuidados com a nutrição.

São algumas das medidas exemplificadas que indicam que a atenção a esses fatores pode ser um importante aliada na luta contra a COVID-19, somado ao fato que ainda não há uma parcela significativa da sociedade imunizada.

Teoria do Autocuidado de Orem

A teoria de Orem é intitulada de “Teoria do déficit do autocuidado”. Ao considerar a perspectiva do autocuidado tratada nessa teoria, as atitudes do enfermeiro fomentam a autonomia do paciente, elemento crucial para o seu empoderamento frente às suas decisões em saúde.

O autocuidado é, em suma, uma educação em saúde. Em tempos de pandemia vimos que há diversas informações incoerentes rondando a população, cabe ao Enfermeiro, como educador em saúde, assumir o papel de informar corretamente, instruindo medidas como:

  • Lavagem frequente das mãos;
  • Utilização do álcool em gel;
  • Etiqueta respiratória ao espirrar ou tossir;
  • Evitar tocar no rosto, sobretudo olhos, nariz e boca; 
  • Manter distância das pessoas de, no mínimo, dois metros; orientar quanto ao isolamento domiciliar;
  • Atuar em cuidados de alta complexidade com agravamento da COVID-19 desenvolvendo um cuidado integral.
  • Sempre realizar educação em saúde e incentivando o paciente ao autocuidado

Teoria da Adaptação de Callista Roy

Por fim, temos a Teoria da Adaptação de Callista Roy. A teoria parte de alguns pressupostos: a pessoa, a saúde, o ambiente e a Enfermagem. Se adaptar a essa nova realidade, onde o vírus tem devastado diversas vidas e famílias, não é fácil tanto para o paciente quanto parao profissional. 

O paciente acometido pela Covid-19 pode vir a ter sequelas da doença, o que o força a se adaptar a essa nova realidade, a Enfermagem tem papel primordial durante esse período adaptativo, já que está e esteve durante todo o período de tratamento do paciente ao seu lado, e desenvolve  vínculo até mesmo com os familiares do paciente.

Muitas vezes o paciente não reage ao tratamento da doença evoluindo  a óbito.sabendo que presença de situações desfavoráveis ou de dificuldades provoca modificações físicas, psicossociais e espirituais, que fazem com que as pessoas necessitem de adaptação para superação, por ter esse contato muito próximo a Enfermagem se torna essencial nesse processo de adaptação, de aceitação, de luto.

Novamente segundo o estudo publicado na REBEn (2020), o” mecanismo de enfrentamento do modo interdependência traz as demandas afetivas de cada sujeito. De fato, com a proposta de distanciamento social, é comum que haja uma angústia por parte da comunidade, que possui necessidade peculiar de se relacionar para o completo bem-estar”. 

Todavia, as tecnologias da informação e comunicação podem ser uma alternativa de mitigar o distanciamento físico e suas respectivas repercussões na saúde biopsicossocial da população, e cabe a Enfermagem através dos mecanismos da teoria de Callista Roy ser atuante nesse processo de adaptação.

Considerações Finais

Por fim, fica evidenciado que quando o processo de Enfermagem se atenta também a olhar para as teorias de enfermagem é possível desenvolver um processo de enfermagem de extrema qualidade. 

No estudo de 2020 publicado na REBEn, entendemos que “O atual contexto pandêmico conclama atitudes científicas acertadas no processo de enfrentamento. Nesse contexto, o enfermeiro que participa na linha de frente da assistência dispõe de arcabouços conceituais para nortear o seu cuidado de maneira crítica, reflexiva, sistemática e holística.”

Nessa perspectiva, foi possível apreender a interface das teorias de enfermagem apresentadas frente à pandemia pela COVID-19, de forma a indicar que as ações de cuidado podem ser norteadas pelos pressupostos e conceitos. 

Os constructos teóricos de Dorothea Orem, Florence Nightingale e Callista Roy vislumbram uma atuação da enfermagem em diferentes aspectos, contemplando o paciente de maneira integral, atingindo o objetivo de prestar uma assistência de qualidade, desenvolvendo a Enfermagem não apenas como uma arte, mas também como ciência.

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Referências:

ALMEIDA, IJS; LÚCIO, OS; NASCIMENTO, MF; COURA AS. Coronavirus pandemic in light of nursing theories. Rev Bras Enferm. 2020;73(Suppl 2):e20200538. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0538

GARCIA, T. R. ; NOBREGA, M. M. L. Contribuição das teorias de enfermagem para a construção do conhecimento da área. Rev Bras Enferm . Brasília- DF, v. 57, n. 2, p. 228-232, 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-71672004000200019&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 02 de abril de 2021.

Mcewen M. Bases Teóricas da enfermagem. Porto Alegre: Artmed; 2016. 608p.

Ministério da Saúde. Diretrizes para Diagnóstico e Tratamento da COVID-19. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde – SCTIE. Brasília- DF, versão 3, p. 01-81, Abril de 2020. Disponível em:  https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/18/Diretrizes-Covid19.pdf. Acesso em: 02 de abril de 2021.

Organização Mundial da Saúde. Folha informativa sobre COVID-19. OPAS- Organização Pan-Americana da Saúde. Brasília- DF, 2021. Disponível em: https://www.paho.org/pt/covid19. Acesso em: 02 de abril de 2021.

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