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Enfermeiros e o cuidado paliativista: a saúde mental no protagonismo do cuidar

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Textos do futuro / Enfermagem

Estamos vivendo nas últimas décadas um envelhecimento crescente da nossa população, assim como as doenças crônicas ou doenças graves, progressivas e incuráveis, por exemplo, o câncer, sendo as doenças crônicas as que mais fazem os pacientes serem atendidos com a abordagem paliativa 3 . Os cuidados paliativos surgem como uma alternativa de conforto do paciente e ao alívio do seu sofrimento na dor, colocando o papel do enfermeiro como um cuidado diferenciado que vai além da ideia de cura, baseado nas características de sua saúde mental.

Os cuidados paliativos são uma alternativa para pacientes que necessitam de cuidados específicos, sendo necessário um equilíbrio com a abordagem tecnológica, para não prejudicar o humanismo, a fim de resgatar a dignidade desse paciente, agregando a possibilidade de morrer em paz 6 . Esses cuidados são baseados em princípios de autonomia, beneficência e da não maleficência, a fim de proporcionar a melhor qualidade de vida possível para pacientes e familiares, sendo os enfermeiros com a sua equipe que os organizam.

No saber científico da enfermagem deve-se envolver o contexto biopsicossocial da pessoa, de forma que, ao aplicar-lhe o processo de enfermagem, o profissional implemente a empatia que, sem dúvida, contribui para a melhoria das condições gerais de saúde da pessoa acolhida.

O enfermeiro paliativista deve atuar no conforto do paciente e principalmente no alívio ou diminuição da dor, devendo estar em equilíbrio e em pleno gozo de suas faculdades mentais 7 , para que diante do paciente não demonstre possíveis sentimentos de incapacidade, incompetência ou omissão, sendo ele a base do suporte emocional paliativista. Nesse momento, a equipe tem obrigação ética e moral de manter o suporte emocional e não-maleficência em todas as fases do cuidado.

Em 2009, a autora Boemer retrata em sua dissertação a importância da renovação profissional frente ao cuidar paliativo, a autora relata: “Se os profissionais se despojarem do velho e abolido conceito de que não devem envolver-se emocionalmente, conseguirão usar suas subjetividades para captar a do doente e, assim, poderão estabelecer intersubjetividades que facilitarão o cuidado de enfermagem.” 1 No entanto, o manejo da dor e do sofrimento, frente às constantes queixas do doente, representa o maior desafio para profissionais de saúde, sobretudo para o enfermeiro; mesmo sabendo que não haverá cura daquela doença.

O exercício profissional da enfermagem está atrelado a superação e ao enfrentamento de dificuldades da própria personalidade, tendo como base da saúde mental o estado reflexivo por meio de insight e inteligência emocional. 2 Assim, fortalecendo a empatia e a autenticidade da relação enfermeiro/paciente, contribuindo para que o paciente usufrua a vida em sua plenitude. Acompanhar o paciente em fase final de vida, demonstra-se numa nova ritualização perante o fim da vida e temos uma evolução dos cuidados e mentalidades face à morte.

O enfermeiro deve ofertar sua saúde mental através da escuta qualificada, afirmação de vida, como um processo normal, não acelerar nem adiar a morte, integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente e outros; a fim, de dar autonomia, para que não se sinta portador de uma doença e objeto de cuidados. Um novo olhar sobre o sentido da vida e de outros valores é gerado nesse momento, assim as características da saúde mental do enfermeiro são passadas como forma de vivenciar a finitude da vida 5 .

Os cuidados paliativos sugerem que o indivíduo seja levado em consideração mesmo depois da sua morte, trazendo uma nova forma de enxergar a finitude e essa visão faz parte do trabalho do paliativista. O compromisso com a vida não pode ser descrito como questionado se compreendemos que a morte faz parte da vida. O protagonismo do cuidado paliativo exige preparo para o cuidado no momento final da vida; de forma ética e altruísta frente ao luto, para que seja um momento de respostas ao desenlace da vida, e não um fracasso profissional, mas como processo natural da vida que todos iremos passar.

O processo do cuidado paliativista gera uma identificação com o momento de vida dos pacientes, criando uma interligação que deve ser mantida com competência e profissionalismo. Cada indivíduo reage de maneira diferente diante do processo vida e morte; sentimentos, qualidades e até mesmo técnicas adquiridas ao longo da vida e do cotidiano hospitalar, tornam-se alicerces para embasar o acolhimento e cuidado em saúde 4 .

O Enfermeiro deve estar capacitado no estudo multiprofissional em cuidados paliativos implementando a empatia e o amor que deve ser a base para qualquer profissional de enfermagem, por isso a sua saúde mental deve estar prepara para esse cuidado específico. Profissionais com especialidade de saúde mental apresentam um arcabouço técnico, científico e psicológico mais qualificado para o atendimento em cuidados paliativos.

Atualmente as produções bibliográficas sobre o cenário do enfermeiro paliativista e a sua saúde mental apresenta inexpressivo conteúdo no âmbito do Brasil. É preciso difundir mais o protagonismo do enfermeiro e sua equipe de enfermagem ou multidisciplinar, para que possamos criar protocolos/cuidados sistematizados para esse público, que necessita de um cuidado maior pela enfermagem e também de seus familiares 7 .

Por isso, a importância da qualidade da saúde mental do enfermeiro paliativista para previnir algum sofrimento psíquico gerado pelo trabalho,mas com medidas adequadas sobre a qualidade do sono, satisfação no trabalho, atividade física, lazer, alimentação e outros com intuito de fortalecer sua saúde.

Referências

1. BOEMER M. R. Sobre cuidados paliativos. Rev Esc de Enferm da USP, São Paulo, v. 43, n. 3, p. 1-4; Setembro de 2009.

2. CAMPOS, S. H.; BOOG, M. C. F. Cuidado Nutricional na visão de enfermeiras docentes. Rev. Nutrição. Campinas, v.19, n.2, p. 2-3; Março/Abr. 2006

3. MATSUNOMOTO, D. Y. Cuidados Paliativos: conceito, fundamentais e princípios. Manual de Cuidados Paliativos ANCP. 2ª ed. revisada e ampliada. São Paulo: Editora Sulina, 2012. 592 p. Parte 1 – Introdução. Disponível em: <http://biblioteca.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2017/05/Manual-de-cuidados- paliativosANCP.pdf.>

4. MOTA M.S. et. al. Reações e sentimentos de profissionais da enfermagem frente a morte dos pacientes sob seus cuidados. Revista Gaúcha de Enfermagem. Porto Alegre, v. 32, n.1; Março de 2011.

5. PAULINO L.C. A Morte: reflexão acerca da Assistência de Enfermagem. Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Rio Preto (UNIRP), Monografia, p. 1-11. São Paulo; 2008.Piva e Carvalho (2009)

6. PESSINI, L. Distánasia: até quando investir sem agredir? Bioética 4, p. 31-43, 1996.

7. SILVA, Silvana; BACAICOA, Maria Helena. A SAÚDE MENTAL DO ENFERMEIRO PALIATIVISTA. Revista da Universidade Ibirapuera , Universidade Ibirapuera São Paulo, v. 3, p. 45-49, jan/jul. 2012. Diponível em: <http://seer.unib.br/index.php/rev/article/download/39/73>

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