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Anatomia cabeça e pescoço – Por que é fundamental na formação do cirurgião-dentista?

Anatomia cabeça e pescoço – Por que é fundamental na formação do cirurgião-dentista?

Por determinação do Ministério de Educação (MEC) brasileiro, o curso de Odontologia deve possuir duração de 5 anos com estágio obrigatório/ prática odontológica e, seguindo os preceitos de todo curso superior de Ciências da Saúde, também possui disciplinas básicas que compõem o “ciclo básico” no 1º e 2º semestre como: Fisiologia Humana, Biociências, Microbiologia, Patologia e Anatomia Humana. Para a prática clínica a Anatomia Humana e, em específico, Cabeça e Pescoço auxiliam o cirurgião-dentista a executar os procedimentos clínicos e cirúrgicos essenciais para adequação oral em qualquer indivíduo.  

O conhecimento de Anatomia cabeça e pescoço é essencial desde procedimentos estético-funcionais relacionados à correta restauração de dentes fraturados ou cariados, confecção de próteses em pacientes que já perderam elementos dentários ou acometidos por extensas lesões maxilofaciais e desejam uma reabilitação anatômica dos elementos protéticos.

A aplicação prática do conhecimento teórico de Anatomia possui íntima relação com a Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, visto que, todo e qualquer ato cirúrgico requer conhecimento de estruturas nobres e manejo dos tecidos intra e extra-orais a serem executados pelo profissional; No que tange à cirurgia, não devemos estabelecer essa relação apenas ao âmbito da especialidade em nível hospitalar mas também, aos procedimentos ambulatoriais que são exaustivamente realizados pelo cirurgião-dentista generalista: Exodontias de dentes permanentes, decíduos, incisão e drenagem de infecções odontogênicas, frenectomias linguais e labiais entre outros procedimentos. 

 

Aos exemplos práticos que podemos citar, a incisão e drenagem de infecções odontogênicas são exemplos clínicos importantes de como o conhecimento teórico-prático da Anatomia pode salvar a vida de pacientes que apresentam quadros clínicos severos. Em 1940, Ashbell Williams¹ apresentou um estudo clássico na literatura científica sobre 37 casos com pacientes apresentando Angina de Ludwig (Celulite facial grave que acomete os espaços submandibulares, sublinguais e submentuais bilateralmente) em que a taxa de mortalidade dos pacientes foi estimado em 54%, ou seja, mais da metade dos pacientes veio ao óbito pelo subtratamento dessa infecção.

Apenas em 1943 que Wiliams publicou outro estudo, com 20 pacientes com a mesma condição sistêmica, porém com grau de mortalidade de 10% após a instituição de tratamento cirúrgico agressivo pautado na incisão e drenagem dos espaços fasciais acometidos e garantia das vias aéreas (procedimento de traqueostomia ou cricotireoidostomia), com uso de antibioticoterapia apenas para suporte do paciente,  evidenciando que, nesta infecção, acima de qualquer prescrição medicamentosa a intervenção cirúrgica pautada nos conhecimentos anatômicos deve ser a prioridade para evitar o óbito advindo de disseminação da infecção para outros órgãos e tecidos (septicemia/bacteremia)  ou por obstrução definitiva das vias aéreas do indivíduo¹.

A relação dos espaços fasciais próximos aos dentes (ex: espaço submandibular, sublingual) e aos espaços profundos (espaço faríngeo lateral, retrofaríngeo e mediastino), com direta relação as vias aéreas e estruturas nobres deve ser conhecida para auxiliar no diagnóstico rápido e preciso, na remoção do fator causal e na drenagem do local, além do conhecimento anatômico imaginológico, no que diz respeito entre saber discenir as estruturas de um exame rotineiro ao dentista e quando as mesmas podem estar alteradas morfologicamente, evidenciando um processo patológico agudo ou crônico

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A anestesia dos molares inferiores possui maior efetividade por bloqueios regionais ou tronculares do Nervo Alveolar Inferior (NAI) costuma ter alto índice de insucesso, na sua técnica convencional, pela variação anatômica acerca da altura e da posição do NAI na saída do forame mandibular e também, pela grande densidade da tábua óssea cortical na região, como justificativas para variabilidade do sucesso na relação posição do NAI versus altura/posição da agulha após a injeção intra-oral na técnica convencional².

Frente a esses percalços, em 1973, George Albert Edwards Gow-Gates referenciou uma técnica intra-oral com 95% de sucesso, em mãos treinadas, que anestesia o 3º ramo do nervo trigêmeo: o nervo mandibular. A técnica de Gow-Gates garantia a anestesia dos nervos alveolar inferior, lingual, mentual, milo-hióideo, auriculotemporal e, em aproximadamente 75% dos pacientes, o nervo bucal.  Além dessa técnica, Joseph Vazirani- Akinosi publicou em 1977 uma técnica de seu domínio que também anestesia o nervo mandibular, porém em pacientes com limitação de abertura bucal severa de aproximadamente 20-25mm definida como trismo e com baixo índice de insucesso em comparação com a técnica convencional de bloqueio do NAI.

A técnica em si é primordial para anestesia em pacientes que necessitam de intervenção nos molares inferiores infeccionados, aos quais houve propagação polimicrobiana ao longo do espaço pterigomandibular, lesando músculos responsáveis pela movimentação mandibular como pterigóideo medial. O seu uso garante que a infecção pode ser tratada pela remoção do fator causal, por exodontia ou pulpectomia do elemento dentário, também pela anestesia motora do nervo mandibular, o que possibilita a abertura bucal passiva sem queixa de dor pelo paciente¹,².

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Além desses exames de aplicação teórico-prática da Anatomia na Odontologia, podemos citar também a progressão do estudo anatômico para Harmonização Orofacial, visto a necessidade dos conhecimentos para aplicação de toxina botulínica entre outras substâncias na prática estético-funcional do cirurgião-dentista. Podemos enfatizar a aplicação dos conhecimentos anatômico buco-maxilo-faciais na Odontologia como obrigatório para o profissional, visto que o estudo da anatomia, mesmo que restrito a especialidade em que atua, deve ser contínuo e constante. 

Autor: Josfran da Silva Ferreira Filho

 

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REFERÊNCIAS
Topazian, R.G Goldberg, M.H. Infecções maxilofaciais e orais. 4.ed. São Paulo: Editora Santos. 2002.
Malamed, S.F. Manual de anestesia local. 6ª ed., Rio de Janeiro, Elsevier, 2011

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