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Flúor: benéficio até que ponto? | Colunista

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O flúor (F) é um halogênio presente na natureza em forma de fluoreto e altamente reativo, sendo o 13º elemento mais abundante na crosta terrestre. Ele teve a sua produção comercial iniciada a partir da Segunda Guerra Mundial. Ele é utilizado em variadas áreas do quotidiano, mas, a sua ação no organismo acarreta além de vantagens, desvantagens quando em concentrações inadequadas (MAGALHÃES, 2018).

A associação positiva do flúor com a prevenção de cáries prevalece na sociedade desde que a fluoretação da água potável foi adotada em 1945 nos Estados Unidos. A toxicidade do flúor ficou evidente a partir de tragédias ambientais ocorridas no início do século XX com o início da industrialização causando muitos danos especialmente a determinadas classes de trabalhadores mais expostos aos fluoretos (SILVA et al., 2017; KRÜTZMANN, 2019; RODRIGUES, 2019).

Atualmente, à fluoretação da água destinada ao consumo humano, é vantajosa pois permite que grande parte da população tenha acesso de forma fácil e económica a compostos de flúor. No entanto, o flúor apenas é benéfico quando administrado nas doses adequadas. Torna-se assim importante conhecer qual a quantidade de flúor presente na água da localidade onde se habita de modo a evitar o consumo excessivo (MAGALHÃES, 2018; DIAS, 2020)

Uma das questões polêmicas sobre a fluoretação da água potável está baseada na complexidade de determinar a ingestão diária de flúor, considerando diversas fontes como água, comida e creme dental. Uma dose de 0,07 mg de fluoreto/dia/kg de peso corpóreo tem sido aceita clinicamente como limite superior a ser respeitado para risco de fluorose dental (KRÜTZMANN, 2019).

O homem consome flúor através da ingestão de alimentos. Alguns deles, como vegetais, peixes e o chá preto, apresentam elevadas concentrações de fluoretos. O conhecimento da concentração de flúor presente nos alimentos e bebidas se torna difícil, uma vez que, na maioria das vezes, esse tipo de informação não está descrito nos rótulos das embalagens (MAGALHÃES, 2018; SOUZA, 2020).

Cerca de 75 a 90% do flúor ingerido é absorvido pela via digestiva, e transportado pela corrente sanguínea depositando-se, nos ossos e menos de 1% nos dentes. É necessária uma reflexão sobre as formas de administração dessa substância, visto que os efeitos gerados pela administração por via sistémica estão associados a complicações no organismo (MAGALHÃES, 2018; BELOTTI et al., 2020)

EFEITOS NEGATIVOS DO FLÚOR NA CAVIDADE BUCAL

A fluorose dentária é o distúrbio mais notificado e suas características incluem, a presença de manchas brancas e/ou marrons no esmalte dos dentes, sendo o aspecto mais visível e evidente da exposição sistêmica ao fluoreto em excesso durante a formação dos dentes, afetando a estética (SILVA et al., 2017; KRÜTZMANN, 2019)

O flúor sistémico incorporado na matriz dos tecidos dentários durante a sua maturação não é a garantia de prevenção da cárie dentária, pelo contrário a exposição a elevadas concentrações de flúor induz apoptose dos odontoblastos e osteoblastos. Observa-se um aumento da prevalência da fluorose em vários países inclusive no Brasil, onde a incidência da fluorose foi indicada como um problema de saúde pública (MAGALHÃES, 2018, LACERDA, 2020)

A ingestão sistêmica de flúor causa fluorose e pode causar câncer ósseo (osteossarcoma) quando o consumo de flúor for acima de 1,0 mg/L por dia (KRÜTZMANN, 2019). A ligação entre a exposição ao flúor e a presença de osteossarcoma, ocorre pela ação do fluoreto que resulta na proliferação de osteoblastos e sua transformação maligna (MAGALHÃES, 2018)

Como cerca de 75 a 90% do flúor ingerido é absorvido pela via digestiva, e transportado pela corrente sanguínea depositando-se, nos ossos e menos de 1% nos dentes, ele é mais eficaz e mais seguro para prevenção da cárie dental quando administrado por via tópica através de dentífricos com flúor, colutórios fluoretados, geles e vernizes, quer para crianças ou para adultos, sendo necessário o uso racional destes produtos (MAGALHÃES, 2018; DIAS, 2020).

EFEITOS NEGATIVOS DO FLÚOR NO ORGANISMO

Os efeitos tóxicos incluem indução de reações inflamatórias, inibição da síntese de proteínas e da progressão do ciclo celular, stress oxidativo e danos no DNA. O NaF tem a capacidade de induzir a apoptose de células de diferentes órgãos e tecidos incluindo, rins, fígado, cérebro, pâncreas, timo, endométrio, medula óssea, eritrócitos, entre outros (MAGALHÃES, 2018; RODRIGUES, 2019).

Têm sido documentadas mudanças estruturais em rins de animais com intoxicação crónica e aguda de flúor, como hemorragia, hiperemia glomerular e medular, alterações inflamatórias, destruição tubular e edema intersticial (MAGALHÃES, 2018).

O flúor exerce efeitos tóxicos sobre o sistema nervoso central, que dependem da dose administrada, idade e tempo de exposição. Durante o desenvolvimento do cérebro há o efeito cumulativo na glândula pineal. Deficiências do desenvolvimento neurológico, como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, afetam milhões de crianças em todo o mundo e produtos químicos industriais, incluindo flúor, estão causando um aumento na frequência dessas anomalias (MAGALHÃES, 2018; KRÜTZMANN, 2019).

Os efeitos associados à presença de flúor no cérebro incluem: redução de receptores de acetilcolina nicotínicos; danos no hipocampo; formação de placas de β-amiloide (formação cerebral clássica na doença de Alzheimer) (MAGALHÃES, 2018). Estudos científicos têm demonstrado, através de tomografia computadorizada, que pacientes com Alzheimer possuem uma significante quantidade de tecido da glândula pineal calcificado (DALILA, 2015).

O quociente de inteligência (QI) de crianças em lugares com grande exposição ao flúor (4 a 12 ppm) é significativamente inferior ao de crianças expostas a concentrações aproximadamente de 0,91 ppm. Esta toxicidade ocorre após ingestão superior a 1 ppm e os seus efeitos podem manifestar-se 20 anos após a exposição. A exposição ao flúor durante o desenvolvimento embrionário tem sido relatada como estar relacionada com distúrbios de aprendizagem e diminuição da inteligência (MAGALHÃES, 2018).

Na década de 1990, uma cientista britânica, Jennifer Luke, descobriu que o flúor se acumula em níveis notavelmente altos na glândula pineal (DALILA, 2015). Com isso, ele pode causar diminuição na produção de melatonina e tenha outros efeitos na função normal da glândula pineal. De fato, as partes calcificadas da glândula pineal (cristais de hidroxiapatita) contêm as maiores concentrações de flúor no corpo humano (até 21.000 ppm F), mais altas que os ossos ou dentes (LIMA, 2018).

A exposição ao flúor também interfere na função tireoidiana, predispondo ao estresse oxidativo e provocando o envelhecimento precoce. Ele é um desregulador endócrino ligado ao hipotireoidismo, obesidade e diabetes, mesmo em doses baixas (padrão do EPA de 4 mg. L-1). O dogma tradicionalmente aceito na toxicologia de que "a dose produz o veneno" não é mais aceitável a partir dos estudos de produtos químicos desreguladores endócrinos (EDCs) que desafiaram esses conceitos (KRÜTZMANN, 2019; BELOTTI et al., 2020).

Os EDCs podem ter efeitos em doses baixas que não são previstos por efeitos em doses mais altas. Milhões de pessoas podem ter a função tireoidiana reduzida e estão mais predispostos ao estresse oxidativo e ao envelhecimento precoce devido à exposição ao fluoreto. Além disso, o fluoreto tem capacidade de competir com os átomos de iodo nos hormônios T3/T4, interferindo com a função tireoidiana e ter efeitos ainda mais devastadores quando associada com deficiência de iodo (KRÜTZMANN, 2019; SOUZA, 2020).

Os efeitos do flúor sobre a fertilidade feminina e masculina são atualmente considerados um fator causador de problemas de infertilidade, sendo neste momento uma preocupação crescente por parte da comunidade científica (MAGALHÃES, 2018).

CONCLUSÃO

A fluoretação da água é benéfica até certo ponto, mas quando a quantidade recomendada de ingestão diária é ultrapassada expõe a população a riscos na saúde, especialmente as crianças. Ações de promoção de saúde bucal e aplicação tópica de flúor, é uma alternativa bem mais segura. Pois, o elemento citado está presente nas pastas de dente, em alguns alimentos e na água mineral, podendo assim elevar o limite diário de ingestão, que com o tempo as alterações se desenvolvem. 

Sendo assim, é recomendável a revisão da prática da fluoretação da água e o prosseguimento das pesquisas que focam nos efeitos tóxicos e neurotóxicos do flúor, para que seu uso possa ser feito da forma mais segura.

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REFERÊNCIAS 

BELOTTI, Lorrayne et al. Vigilância da qualidade da água para consumo humano: potencialidades e limitações com relação à fluoretação segundo os trabalhadores. Saúde em Debate, v. 43, p. 51-62, 2020.

CABRAL, Ailim. A discussão sobre o flúor fica cada vez mais intensa. Mocinho ou vilão?, 12 de março de 2017. <Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/revista/2017/03/12/interna_revista_correio,579809/fluor-mocinho-ou-vilao.shtml>. Acessado em: 24 de agosto de 2020. 

DALILA, Marina. Flúor pode afetar a pineal e gerar Alzheimer, 25 de outubro de 2015. <Disponível em: https://www.epochtimes.com.br/alzheimer-esta-ligado-a-calcificacao-da-glandula-pineal/>. Acesso em: 22 de agosto de 2020. 

DIAS, Kateline Marisa. Determinação da distribuição de flúor em esmalte dentário. 2020. Tese de Doutorado.

KRÜTZMANN, Marise Wilsmann et al. Fluoretação da água potável: Uma revisão bibliográfica. Revista Geama, v. 5, n. 3, p. 18-28, 2019. 

LACERDA, Ana Paula Alves Gonçalves et al. Fluoretação da água dos dez maiores municípios do estado do Tocantins, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, p. 1507-1518, 2020.

LIMA, Érica. Veja Como o Flúor Calcifica A Glândula Pineal, 19 de setembro de 2018. <Disponível em: https://esquecerparadescobrir.com/fluor-calcifica-a-glandula-pineal/>. Acesso em: 24 de agosto de 2020. 

MAGALHÃES, Helena Isabel Couto. Efeitos do flúor na saúde humana. 2018. Tese de Doutorado.

RODRIGUES, Gerlane Siqueira; DINIZ, Simone Ferreira. AVALIAÇÃO DO MONITORAMENTO E QUALIDADE DA ÁGUA PARA O ABASTECIMENTO PÚBLICO DA ZONA URBANA DO MUNICÍPIO DE FORQUILHA-CEARÁ. REVISTA EQUADOR, v. 8, n. 3, p. 279-294, 2019.

SILVA, Malena Morais Castro et al. Uso de dentifrícios fluoretados por crianças: conhecimentos dos pais sobre efeitos preventivos e adversos. 2017.

SOUZA NETO, Antonio Carlos de; FRAZÃO, Paulo. Princípios invocados numa política intersetorial de saúde: o caso da fluoretação da água no Brasil. Saúde e Sociedade, v. 29, p. e190048, 2020.

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